Hoje é um dia de festa para a gastronomia! O bioma
que nos dá a guavira, a bocaiúva, o pequi, o cumbaru, o araticum, o jatobá, o
buriti e a mangaba está comemorando sua existência. E até parece de propósito
que o seu mais belo símbolo, os ipês, estejam florindo ricamente em todos os
cantos da nossa cidade. Deve ser um presente ao Cerrado pelo seu dia.
Ocupando pouco mais de 2 milhões de km2, o Cerrado
é a segunda maior formação vegetal da América do Sul, perdendo em tamanho
apenas para a Floresta Amazônica. Sua área corresponde a um quarto do
território brasileiro e ele é considerado a savana com a maior biodiversidade
do planeta.
Marcando presença em mais da metade dos estados
brasileiros, neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três
maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica, São Francisco e
Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua
biodiversidade.
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande
importância social. Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais,
incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras
e vazanteiros que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural
brasileiro e detêm um conhecimento tradicional de sua amplitude.
Mais de 220 espécies têm uso medicinal e mais 416
podem ser usadas na recuperação de solos degradados, como barreiras contra o
vento, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores naturais
de pragas. E aqui chegamos ao que mais interessa a nós, do mundo da cozinha: os
frutos comestíveis, com os quais a gente faz a festa nas nossas panelas.
Seja em forma de picolés, geleias, mousses,
caipirinhas, pudins e até dando um toque exótico a pratos salgados, esses
frutos de sabores super potentes e marcantes vêm ganhando cada vez mais espaço
à mesa do brasileiro e hoje mais de 60 espécies são conhecidas e utilizadas
pela população.
Além de deliciosas, as frutas nativas do cerrado
são ricas em proteínas, fibras, carboidratos, vitaminas, minerais e ácidos
graxos. Só para citar duas de nossas estrelas, as castanhas do cumbaru são
riquíssimas em ômega 6 e ômega 9 e a guavira é uma grande fonte de vitamina C,
fundamental para se manter a imunidade do seu corpo em alta.
Pois bem, já que esse bioma é tão generoso conosco,
reles e famintos mortais, a gente volta à pergunta lá de cima: estamos cuidando
bem do nosso Cerrado? A má notícia é que, apenas entre 2002 e 2008, o bioma
perdeu 14,2 mil quilômetros quadrados de vegetação por ano. Já a retirada da
mata de 2009 para 2010 foi de 6,5 mil quilômetros quadrados. Seus remanescentes
apresentam alto grau de fragmentação e somente 20% deles estão intactos.
A boa notícia é que o ritmo do desmatamento vem
diminuindo nos últimos anos e as iniciativas de recuperação e conservação do
Cerrado estão ganhando força. Ótimos exemplos como o “Frutos do Cerrado –
Conhecer para Valorizar” e o “Programa Cerrado – Pantanal” , da WWF, promovem a
preservação dessa riquíssima biodiversidade e servem de inspiração para quem
quer fazer sua parte. Aqui em Campo Grande a gente pode citar o belíssimo
projeto da Economia Solidária, o “Espaço Gosto do Cerrado” que liga o pequeno
produtor diretamente ao consumidor final, trazendo benefícios a todos.
Gostou
e quer que seus filhos e netos gostem também? Faça sua parte e cuide bem desse
nosso tesouro. Conheça, valorize e divulgue nossos frutos. Isso te levará a ser
um consumidor responsável e permitirá ao Cerrado que continue nos presenteando
com essa explosão de aromas e sabores que só ele tem.
E, para comemorar o Dia do Cerrado, acontece desde ontem, aqui em Campo Grande, a I Feira do Pequi e de Outros Frutos do Cerrado, evento que está sendo apoiado pelo nosso Convívio Slow Food Campo Grande. Maiores informações no link: