sexta-feira, 20 de julho de 2012

Noite perfeita no Chef Vivi

Apesar de todos os 5 posts, nem só de eventos eu vivi em Sampa. Não tem como ir para a capital da gastronomia do Brasil sem comer muito e descobrir novos restaurantes. Ainda mais para nós, apaixonados por comida :-). Aliás, para mim viagem é sinônimo de comida boa e eu sempre escolho ao menos um bom e novo restaurante para conhecer, nas minhas andanças por aí.

Desta vez, minha escolha em São Paulo foi o Chef Vivi.


Eu conheci a Chef Vivi aqui em Campo Grande, no Arena Gastronômica, onde ela nos contou toda sua história de luta e sucesso na gastronomia, passando por Londres, encantando Pequim e voltando para o nosso Brasil. E claro que eu falei sobre ela aqui no blog. Quem não se lembra da história dessa guerreira, acesse o post e saiba mais: http://miriamarazinichef.blogspot.com.br/2012/06/quarto-dia-da-arena-gastronomica-ms.html



Após o nosso encontro, sua simpatia me fez querer conhecer o seu cantinho em São Paulo. A minha primeira impressão ao entrar no restaurante é que estamos sendo recebidos na casa de amigos, de tão aconchegante. Com menos de trinta lugares, um cardápio enxuto e que muda diariamente, equipe atenciosa e música gostosa, não tinha como ser diferente :-)


Antes de chegar, sabendo que o cardápio era pequeno e mudava todos os dias, fiquei pensando "E se eu não gostar de nada??". Pois aconteceu exatamente o contrário! Eu queria experimentar tudo e foi uma luta escolher o que comer! Isso porque a Chef Vivi cuida para que o cardápio seja bem amarradinho, com opções que agradem gregos e troianos, para os que gostam só de carne ou peixe ou massa. E caso alguém queira ir ao restaurante todos os dias, dá pra variar e ficar satisfeito sempre! 

Vejam só quantas delícias:


Na minha dúvida, usei a estratégia de dividir os pratos e, assim, poder experimentar mais, hehehe.

Para começar, uma entrada maravilhosa!! Alcatra de avestruz grelhada + endívias ao forno + mandioquinha em fitas + salsa de ceboletti


Depois, mais uma entradinha, do jeito que eu gosto: leve, colorida, com várias texturas, aromas e sabores. Polenta de fubá + buffala mozzarela + tomate confitado + folhas orgânicas + manjericão roxo.
Prato perfeito!


De prato principal, dois grandes amores meus de mãos dadas: filé mignon e queijo brie. Com uma bela apresentação e sabor melhor ainda, a Chef Vivi me ganhou com certeza! Tournedo de mignon grelhado + queijo brie + mini legumes orgânicos + broto de alho poró


Se vocês pensam que não tinha como ficar melhor, prestenção nessa degustação de sobremesas: creme brulê + pavê de nozes + canoli de chocolate amargo +  compota de frutas + quenelle de sorvete. Morri!! 


Eu acho quem nem preciso falar mais nada para convencê-los a visitar o Chef Vivi, né? Bastam as descrições e fotos dos pratos. Ainda por cima, como eu cheguei meio tarde, acabei sendo a última a sair do restaurante e tive o prazer de bater um papo gostoso com a Vivi e sua sócia, Poliana, degustando um vinho de sobremesa oferecido por elas. Não é para apaixonar???

Obrigada pela hospitalidade e pela maravilhosa experiência gastronômica, meninas. Muito sucesso para o Chef Vivi!!

Maiores informações no site do restaurante: http://www.chefvivi.com.br

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Terceiro dia do 6º Paladar Cozinha do Brasil - Parte 2

E finalizando os posts sobre a minha participação na sexta edição do Paladar Cozinha do Brasil, uma aula especial para combinar com a novela das 11 e uma degustação a cegas de vinho.

A COZINHA NA LITERATURA DE JORGE AMADO - PAULINHO MARTINS


 Comemorando o centenário de Jorge Amado, o chef Paulinho Martins criou um menu degustação todo inspirado nos livros deste grande escritor brasileiro e fez os participantes entrarem no clima da regravação de Gabriela. 

Depois do estudo de suas obras, o passo seguinte foi ter uma conversa com sua filha, Paloma Amado, para descobrir o que ela considerava essencial na relação de Jorge Amado com a culinária. Paloma contou que seu pai se auto denominava um baiano romântico e sensual. E foi essa sensualidade que levou o chef a desenvolver um prato rico em elementos, cores e aromas afrodisíacos, a "Moqueca de pitu sobre moqueca de jaca dura, com bolinho de arroz, coco e castanha de jaca". 

Já o prato com lambreta e aipim foi uma referência direta à cidade que sempre aparece nos livros de Jorge Amado, São Jorge dos Ilhéus. A lambreta lembra um vôngole maior e é muito típico da cidade baiana.


Depois começaram as degustações (oba!). O primeiro prato que chegou à nossa mesa foi o quibe cru de guaiuba com salada de cebolas e hortelã ao molho de iogurte e pepino. Essa receita fácil e deliciosa foi a forma que Paulinho encontrou para retratar a influência árabe na culinária de Ilhéus e na obra de Jorge Amado (lembram-se do turco Nacib, paixão de Gabriela??).


O segundo prato foi uma salada de feijão de corda com rosbife de capivara, que impressionou toda a platéia e é uma homenagem ao livros da fase "sertão" do escritor.


Para fechar, o maravilhoso arroz de pato da Gabriela, cozido com cravo e canela! O chef explicou que, em sua conversa com Paloma Amado, questionou se seu pai havia desenvolvido um paladar internacional ou era fã apenas da cozinha brasileira. Paloma disse que ele adorava a culinária européia e era apaixonado pelo magret francês e o arroz de pato português. E daí surgiu esse prato, uma homenagem também à personagem mais famosa de Jorge Amado, estrela do remake da Globo.

Paulinho ainda nos contou sobre a receita preferida do escritor: rabanada com coco! Mas esse não teve degustação :-(. Foi só pra aguçar a curiosidade...

As receitas de todos os pratos estão no link:

VINHOS DO BRASIL E DO MUNDO - LUIZ HORTA


Encerrando minha participação no Paladar de 2012, nada melhor do que uma degustação às cegas de vinhos, conduzida por Luiz Horta. Com as dicas de que a maioria dos rótulos era de brasileiros e feitos com merlot (varietal ou corte) ficamos ali, um a um tentando adivinhar quais eram os países e regiões dos vinhos nas nossas taças. Além de, claro, fazer nossas análises sensoriais.


  1. O primeiro vinho era jovem, com muita especiaria, boa acidez e pimenta no nariz;
  2. Com nariz mais fechado, taninos pronunciados e pouco corpo, este tinha um gosto bem acentuado de chiclete de tutti frutti ou aquelas bananinhas passas;
  3. O terceiro rótulo era leve, pouco tânico, com bastante fruta vermelha e aroma floral, sendo perfeito para bebericar durante muito tempo;
  4. Este vinho apresentava um aroma fechado, com taninos agressivos e que não devem mais evoluir. Também tinha um gostinho de chiclete e um retrogosto bastante curto;
  5. O quinto vinho estava bouchoné e foi deixado de lado :-(
  6. Essa taça  começou bastante promissora, com um forte defumado, cor mais fechada, muito corpo e untuosidade. Apesar de não ter fôlego para chegar com a mesma potência no final, eu achei bastante elegante e foi o meu preferido :-)
  7. O sétimo vinho tinha um aroma mais fechado, cor rubi bem forte. Era austero, com uma acidez volátil, muita fruta madura, madeira pronunciada e bastante tanino. Gostoso na boca, mas pede comida;
  8. No oitava eu já tava meio cansadinha de tanto vinho, rs.... Acho que não dou conta de ir naquelas feiras em que se degusta 48 vinho, não!! Mas consegui perceber uma boa acidez e taninos redondos;
  9. Esse foi para substituir o quinto vinho e não estava com defeito, mas também não agradou muito porque tinha muita fruta e já parou de evoluir.
E agora, vejamos os rótulos:

  1. Joaquim Vila Francioni, 2008, cabernet sauvigon/merlot. Serra Catarinense;
  2. Bordeaux Supérieur, 2009. Chateau Turon la Croix, Medoc;
  3. Quinta do Seival, castas portuguesas, 2008. 50% Touriga Nacional e 50% Tinta Roriz;
  4. Bourdeaux Supérieur genérico, 2009;
  5. Esse era o bouchoné e é de praxe não mostrar o rótulo;
  6. Dom Laurindo Tannat Reserva, 2005;
  7. Pizzatto DNA 99, single winer, 2005. Vale dos Vinhedos;
  8. Miolo Terroir merlot, 2009, Vale dos Vinhedos;
  9. Marco Luigi, Cabernet Sauvignon, 99.
E ainda tivemos dois presentinhos extras: Um Elos 2008, Touriga/Tannat, Lídio Carraro e um Dom Cândido Documento Merlot 2009.



Depois de tantos vinhos, o Luiz Cintra fechou a degustação com a conclusão de que o Brasil ainda não é o número 1 em produção de vinhos de qualidade, mas que evoluímos nos últimos 10 anos e estamos indo muito bem, obrigada! Ele ainda completou com a observação de que o Brasil já produz ótimos rótulos para o dia a dia, com garrafas de até R$100,00 (!!!!!!!????). Ok... mas eu fico com meu colega Diogo Wendling e continuo achando bem caros vinhos do dia a dia a R$50,00. Ainda estou na faixa dos vintão!!! Acima de R$ 30,00, só de vez em quando :-)



E é com um tim-tim, desejando saúde a todos, que me despeço dos posts sobre esse evento tão importante para nossa gastronomia. Até o próximo Paladar Cozinha do Brasil!!!



terça-feira, 17 de julho de 2012

Terceiro dia do 6º Paladar Cozinha do Brasil - Parte 1

O último dia da sexta edição do Paladar Cozinha do Brasil foi o mais movimentado para mim. Participei de cinco aulas, palestras e degustações e teve de tudo: formiga frita na banha de porco, vinhos, pães, Gabriela...

PÃES DO BRASIL - ROGÉRIO SHIMURA


A primeira aula de hoje foi perfeita para começar o dia: que tal um pãozinho quentinho às 10:00h da manhã? Rogério Shimura e seus convidados, o consultor Carlos Rocha, Vittorio Lorenti (Basilicata - São Paulo) e Priscila  Fighera (Padarie - Porto Alegre) montaram um cenário geral da panificação brasileira enquanto os participantes se embriagavam com o cheirinho de pão no forno.

As histórias e curiosidades foram muitas, e eis as minhas preferidas:
  • O Brasil produz mais de 200 milhões de pães franceses por dia, em suas 65 mil padarias;
  • 60% da produção das padarias brasileiras é de pão francês;
  • O modelo de padaria brasileira está sendo imitado no mundo todo! Profissionais de diversas partes do globo vêm ao Brasil aprender sobre as nossas padarias multifuncionais e gigantes, que servem café da manhã, almoço, chá da tarde e até jantar;
  • Desde o plantio da semente, o pão francês passa por mais de 2500 operações até ficar pronto para consumo;
  • O dia do Panificador é comemorado em 8 de julho, dia de Santa Isabel, que distribuía pães ao pobres, escondida do marido (???!!). Quem quiser conhecer a famosa a Lenda das Rosas, que foram transformadas em pães, pode conferir o link:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal
Enquanto a conversa rolava, um pedaço da baguete feita com levain, recém-saída do forno chegou às nossas mesas. Olha que beleza de pão:


Quem quiser se aventurar nas artes da boulangerie, segue a receita:

CRÍTICA GASTRONÔMICA - LUIZ AMÉRICO CAMARGO


É claro que eu, que além de personal chef também me aventuro pelos textos desse blog, não poderia deixar de participar de uma aula com um dos críticos gastronômicos mais famosos do Brasil. Luiz Américo Camargo escreve a coluna "Eu só queria jantar", do caderno Paladar e nos contou a história da crítica gastronômica, além de nos dar dicas preciosas sobre essa nossa área de atuação.
  • Os objetivos da crítica gastronômica são: informar; formar juízo; formar público; construir conhecimento; oferecer informação em perspectiva; prestar serviço;
  • Somente no século XX foi que surgiu o anonimato na profissão, o "Crítico sem Rosto", como no modelo do Guide Michelin;
  • São necessárias ao menos 3 visitas a um restaurante antes que seja possível se formar uma ideia sólida e real dele. É preciso visitar e revisitar, testar e experimentar, conferir e confirmar :-)
  • Uma experiência gastronômica é feita das seguintes etapas: chegar ao restaurante; acomodar-se à mesa; escolher o que comer; comer, sentir e pensar; analisar se está gostando ou não e o porquê disso;
  • Um bom crítico não aceita convites, não marca datas de visita, procura se manter anônimo e SEMPRE PAGA SUAS CONTAS!!
Aliás, vocês sabiam que alguns veículos de comunicação, como o The New York Times, não publicam críticas ruins?? Em sua visão, o objetivo da crítica gastronômica é indicar aos leitores ONDE IR  e não ONDE NÃO IR. O Luiz disse que também tem por postura não publicar críticas ruins, a não ser de novas casas de chefs ou estabelecimentos já bastante conhecidos do público, quando ele considera que seu público que ouvir sua opinião. 
Vocês já devem ter notado que eu também não uso meu blog para meter o pau em nenhum restaurante, chef ou comida. Apenas coloco aqui o que eu aprovo! Se não gostei, não coloco no blog, e pra mim está de bom tamanho :-)

COZINHA CAIPIRA - JOÃO RURAL


Essa figurinha aí em cima apresentou uma das minhas aulas preferidas desse Paladar! João Rural me levou de volta ao meus dias de criança na fazenda do meu pai, onde mami preparava aquele frango caipira com macarrão no fogão à lenha e já enchia a casa de aromas inesquecíveis desde as primeiras horas da manhã. E digo: quem nunca comeu um feijão feito no fogão à lenha desconhece o que é feijão  gostoso de verdade!

Enquanto os participantes degustavam um café feito com rapadura, João falou sobre a diferença entre o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e o Jeca esperto, de Mazaropi; defendeu a cozinha caipira de verdade e arrebatou a platéia com uma surpresa atrás da outra. Será o que você sabia disso?


  • Não existe comida típica mineira. A cozinha de Minas Gerais veio quase toda do Vale do Paraíba;
  • Não se frita e nem se lava arroz na cozinha caipira;
  • O jeito certo de "fritar" o bife é com água, e não com óleo (adorei!);
  • O povo sempre fica desesperado para dessalgar a carne seca com antecedência, deixando na água o dia inteiro. Mas basta parar para pensar um pouquinho para entender que tropeiro nenhum ficava parado o dia todo esperando a carne dessalgar, muito menos deixava no riozinho de trás e voltava depois pra buscar. E então como? Ué, colocando mais sal!! Lembram-se da osmose das aulas de biologia?? Pois é... Basta lotar de sal a carne ainda seca, levar à panela e "quando a espuminha começar a andar", jogue o sal fora e pronto (adorei mais ainda!!!)
  • Cozinha caipira não vai cebola. Cebola azeda tudo mais rápido.
  • Cozinha caipira leva pouco tempero. O objetivo é sentir o sabor do ingrediente e não dos temperos. Super atual, não?


E para aguçar nossas lombrigas na hora do almoço, um pratinho com farofa de içá e bolinho caipira de farinha branca. Para quem não sabe, içá é uma formiga!! É, essa foi a minha estréia nas degustações de insetos. Confesso que quando olhei meu estômago deu uma leve embrulhadinha mas, quando provei, que delicia!! Formiga fritinha na banha de porco, super saborosa e aprovada!!

Os corajosos e de paladar aberto às novidades podem testar a receita:

No próximo post, comida de Jorge Amado e degustação de vinhos com Luiz Horta.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os ganhadores do jantar do Dia dos Namorados

Olá, amigos da cozinha!
Demorou, mas conseguimos marcar uma data para a "entrega" do prêmio da promoção do Dia dos Namorados aqui do Blog. A vencedora foi a Leiner Teruya e eu, com muito prazer, estive em sua casa na semana passada, preparando um jantar completo e exclusivo para ela e seu amor, Juvêncio.


Cheguei tomando conta da cozinha, integrada com a sala de jantar e com uma geladeira que eu adorei,  toda amarela e adesivada de Veuve Clicquot, um sonho para todos os amantes de champagne!! A Leiner aproveitou para fazer alguns flashs dessa noite cheia de mimos :-)







Para beber, eles escolheram um vinho meio seco, o brasileiro Marcus James, e o jantar romântico começou com dois belisquetes: damasco recheado com cream cheese e involtini de mussarela, tomate seco e rúcula.



De entrada, uma deliciosa e colorida salada de bifum com kani e legumes.



O casal optou por começar o jantar no aconchego de seu sofá, bebendo o vinho e degustando as entradinhas em slow motion, aproveitando para ficar bem juntinho :-)



Já para o prato principal, a Leiner arrumou a mesa com todo charme, com uma bela toalha e dois castiçais, criando um gostoso clima de romance no ar.



Vejam só que bom gosto do casal: filé com bacon, acompanhado de risoto de pera e gorgonzola!


Para a sobremesa, a pedida foi o apaixonante petit gateau Romeu e Julieta, que sempre faz o maior sucesso com os meus clientes e alunos:


Ao final do jantar, me despedi de Leiner e Juvêncio, desejando muita felicidade e amor ao casal e aconselhando-os a aproveitar a noite para namorar muito mais!!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Segundo dia do 6º Paladar Cozinha do Brasil

Além de aulas, palestras e degustações, o Paladar contava também com um espaço chamado "Mercadão Paladar", onde vários expositores degustações e demonstrações de seus produtos. Vinhos, carnes exóticas, cachaças, livros, produtos do norte y otras cositas más. Aproveite para fazer uma visita antes das minhas aulas, me apaixonei pelo stand do Pará, provei um carne de javali e comprei uma cachaça para aumentar a coleção da minha irmã.








CAFÉ COM BOLO - HELOÍSA BACELLAR E ENSEI NETO


A minha primeira aula do dia foi sobre um tema providencial, em um horário providencial: Café com bolo, às 15:30h. Combinação triplamente perfeita na aula com mais cara de casa de vó e comfort food de todas!! Quem fez os bolos foi a Heloísa Bacellar, de quem eu já era fã, e os cafés ficaram por conta do Ensei Neto, consultor de marketing e qualidade de cafés especiais, que nos contou alguns segredos dessa bebida. Segundo ele no Brasil se bebe o café mais quente do mundo, o que prejudica a percepção dos sabores. O melhor, segundo ele, é deixar o café dar uma leve amornada. Realmente, todo mundo que eu conheço gosta de café "pelando", inclusive euzinha :-) Será que nos acostumaremos a café morno?


O primeiro bolo servido foi o de fubá com goiabada. Para acompanhar, um café que é feito na região de "Chapadão de Ferro", cujas fazendas se encontram dentro de um vulcão instinto. Eu nunca havia participado de uma harmonização de cafés, mas os princípios são os mesmo de uma harmonização de vinhos: é importante ter "memória de paladar", para identificar corretamente aromas e sabores e trabalhar com harmonização por semelhança. No caso, o café servido era mais doce e encorpado, para não sumir diante dos sabores marcantes do fubá e da goiabada. Ele também apresentava uma boa acidez, toques minerais, tornando-o meio salgadinho, e um final de chocolate. Ahhhh, e quando eu digo que o café era "doce" estou me referindo ao doce do próprio pó. Nenhum dos cafés servidos tinha açúcar :-) Esse é o jeito certo de se tomar um café, para poder sentir melhor suas qualidades. Isso aí, ao contrário do café morno, eu já tô quase dando conta!


O segundo bolo ficou carinhosamente conhecido como "Bolo de nada". É, isso mesmo, de nada! Aquele bolo basicão, de farinha, ovo, manteiga e açúcar, que pede um café como nenhum outro. E, o melhor, esse bolo é no esquema "tudo no liquidificador". Foi o meu preferido da aula!! Fofinho, facinho e molhadinho. A Heloísa optou por colocar um toque de canela, que fez o quitute ficar ainda melhor! Desse vez, o pretinho veio da região do Pico da Bandeira, um dos pontos mais altos do Brasil, há mais de 3 mil metro acima do mar (lembram-se das aulas de geografia da 5ª série?). De uma pequena propriedade chamada Sítio Filisbina veio este café feito com grãos de bourbon amarelo. De baixa acidez e deixando a sensação de seda na boca, harmonizou perfeitamente com a delicadeza desse bolo.


O último bolo foi um mármore de chocolate, daqueles que a criançada adora... e muitos marmanjos também! Para harmonizar com o chocolate, o café dessa vez foi totalmente diferente dos outros dois. Com acidez alta, amargor forte e bastante corpo, são cafés desse tipo que conseguem se manter na boca diante de um ingrediente tão marcante.

Finalizando a palestra, eu tive que perguntar ao Ensei se, além de tomarmos café na temperatura errada, nós, brasileiros, também colocamos pó demais na hora de coar. Porque, pra falar a verdade, olha gente, acho que não tenho paladar para café gourmet... achei os 3 cafés deliciosos, mas todos me pareciam mais um chafé!! Mas ele me acalmou e disse que isso não tem certo nem errado e é mais uma questão de costume. Ele contou que enquanto nos EUA, Canadá e Japão a média é de 4 colheres de pó por litro, aqui no Brasil a média é de 6 colheres, e que o café europeu fica entre esses dois, com 4,5 colheres. Agora, posso confessar?? O café de coador que eu faço na minha casa leva umas 8 colheres  para cada litro, hehehehe.

As receitas dos três bolos estão no blog do Paladar: 

QUEIJOS BRASILEIROS - JOÃO DA LUZ


O queijo é um dos meus alimentos preferidos e também o que mais me fascina! Como pode, de um único ingrediente, o leite, saírem tantos tipos diferentes de queijo?? João da Luz, que trabalha no ramo da classificação de queijos há 22 anos, disse que inúmeros fatores se combinam para gerar essa variedade, como:
  • Tipo de animal e alimentação deste;
  • Modo de salgar;
  • Modo de coalhar;
  • Temperatura de reaquecimento da massa;
  • Tempo e peso de prensagem;
  • Teor de gordura;
  • Semeadura de fungos e leveduras;
  • Tipo de fermento.
E muito mais! Por isso, só na França existem mais de 400 tipos de queijos classificados. Sem contar que basta mudar de produtor para ter características diferentes do que era pra ser um mesmo queijo.

Ele ainda falou sobre as regiões de produção do queijo brasileiro:
  • Queijos de Minas: Serro, Serra do Salitre, Araxá, Canastra, Campos das Vertentes;
  • Queijos da Ilha de Marajó: Queijo creme e queijo manteiga;
  • Queijos do Nordeste: Queijo coalho e queijo manteiga;
  • Queijo do Sul: Serrano, Colonial.
Depois da palestra, a nossa degustação:

  1. Queijo de coalho maturado;
  2. Queijo Serra da Canastra (15 dias de maturação);
  3. Queijo Serrano (1 mês de maturação);
  4. Queijo de manteiga;
  5. Queijo Colonial (1 mês de maturação).
A luta da queijaria brasileira agora é não deixar que alguns desses queijos morram, por falta de produção ou loucuras da legislação responsável. Para vocês terem uma ideia, queijos artesanais feitos com leite cru são proibidos de saírem de seu local de origem. Dessa forma, a exportação do nosso queijo artesanal fica impossibilitada :-(

RELEITURAS DE ARROZ, BATATA E BIFE - CARLA PERNAMBUCO


Na minha última aula do dia, a chef Carla Pernambuco, do meu amado e adorado Carlota, ficou com a missão de dar contornos diferentes ao clássico "Arroz, batata e bife". A primeira receita apresentada é herança de família, que a Carla aprendeu com a avó. De origem uruguaia, a "pamplona" é um corte do filé mignon, recheado com parmesão ralado e levado ao forno. Para acompanhar, batata palha frita em óleo aromatizado com alecrim.

O segundo prato foi um confit  de miolo de alcatra, acompanhado de batatinhas assadas na miga fresca e raspinhas de laranja com vinagrete de erva doce. Para fazer o confit, são necessárias pelo menos 5 horas de fogo baixo, sem levantar fervura. Imaginem como ele se desfaz na boca!!



O prato servido ao público foi um baião de dois com mini arroz e feijão manteiguinha de Santarém. Mas, como disse a Carla, ele tinha cara de baião de seis! Com abóbora, queijo de coalho, maxixe e carne de sol, não poderia se esperar nada menos do que uma explosão de sabores na boca. Pra fechar meu dia com chave de ouro!!

As receitas dos 3 pratos podem ser encontradas no link abaixo:



quinta-feira, 5 de julho de 2012

Primeiro dia do 6º Paladar Cozinha do Brasil - parte 2

Se o comecinho do Paladar já estava bom, foi tudo ficando cada vez melhor! E eu tive um super extra, logo no primeiro dia: um encontro com o chef brasileiro mais bem sucedido da atualidade, que comanda a cozinha do 4º melhor restaurante do mundo, Alex Atala. 


Simpático e receptivo como sempre, tivemos um rápido bate papo, onde ele me contou que passou o carnaval desse ano aqui na nossa vizinha Aquidauana, sem badalação, em uma fazenda. Também falamos sobre a primeira edição do evento, há seis anos atrás, lá na Anhembi Morumbi e, claaaaro, eu lembrei que fui sua sous chef :-)

PEIXES E CÍTRICOS - ALBERTO LANDGRAF


Depois de ganhar meu dia e minha ida à São Paulo, fui à terceira aula do dia, ministrada pelo chef Alberto Landgraf. Eleito chef revelação na última edição de "Comer e Beber" da Veja São Paulo, Alberto, dono do restaurante Epice, preparou uma harmonização de peixes com acompanhamentos cítricos, começando pela Cavalinha curada sauté com purê de limão siciliano:


O chef explicou que a cavalinha é um peixe extremamente oleoso, barato, de carne muito delicada e que tem pouca perda. Como proteína gorda vai bem com sal, ele optou por curá-la e escolheu um delicado purê de limão siciliano como guarnição. 


O segundo prato foi um olhete marinado com vinagrete de cenouras. O olhete parece um atum pequeno, também tem um alto teor de gordura e é muito valorizado na culinária japonesa. Como disse o Alberto: "Se japonês disse que um peixe é bom, pode comprar, porque eles são especialistas". O chef optou pela cocção através do suco de limão e a o peixe ficou super macio e com sabor delicado. Uma delícia!


Para finalizar, uma garoupa confit, sobre um molho de iogurte. Nova queridinha do chef, a garoupa é um peixe gelatinoso, que lembra o bacalhau. Apesar de não ter um preço muito elevado, há muita perda durante a limpeza, o que torna seu custo bem salgadinho. Típico de Santa Catarina e Espírito Santo, esse curioso animal pode trocar de sexo durante sua vida, quando atinge uma faixa de peso. Imaginem!!!

O mais legal dos pratos do Alberto é que todos eles eram assim: se vc comia o principal ou a guarnição separados, eles sempre pareciam ou muito salgado, ou muito cítricos ou meio sem graça. Mas, juntos, uma harmonia perfeita! Eles se complementavam e acentuavam as características melhores de cada ingrediente, num casamento ideal. Adorei!


A CERVEJA BRASILEIRA - ROBERTO FONSECA


Que tal terminar o dia de Paladar com uma degustação de cervejas brasileiras?  O especialista em cervejas e colunista do Paladar, Bob Fonseca optou por rótulos brasileiros que homenageavam bandas de rock, com direito a suas músicas como harmonização.


Como eu não sei quase nada sobre cerveja, hoje entendi o que pessoas sem noção de vinho sentem em uma harmonização da bebida. Boiei em um monte de nomes e às vezes parecia que eu tava ouvindo grego, hehehehe... mas, eu sou esforçada e anotei todas as informações. Além de, claro, ter experimentado todas com muita atenção :-)


A primeira cerveja foi a Hellbier, produzida pela Mistura Clássica, em homenagem ao grupo Blues Etílicos. Os entendidos disseram que ela tem malte e lúpulo adocicados, com toques florais e cítricos. É uma cerveja leve, que pede o próximo gole.


A segunda cerveja homenageou os 25 anos da banda de metal mais conhecida do Brasil. A Sepultura Weizen é produzida pela cervejaria Bamberg, tem a cor dourado claro e até eu que não entendo muito consegui sentir na boca o gosto de banana. O Bob contou que esse sabor predominante de cravo e banana é típico da cerveja com levedura da escola alemã.


Demos uma pausa nas garrafas para degustar um barril de 50 litros da cervejaria Coruja, chamado Labareda. Essa bebida havia sido lançado apenas 3 dias antes, em Porto Alegre, em homenagem a Wander Wildner, da banda Replicantes. Era uma lager, de malte defumado, com base na keller bier, com acentuado sabor picante.


Voltando às garrafas, foi a vez da "Camila, Camila", também produzida pela Bamberg. A conhecida música do Nenhum de Nós foi escolhida para dar nome ao rótulo de homenagem ao grupo. O Bob falou para procurarmos identificar as notas de malte e biscoito e também a boca de lúpulo herbal e amargor final intenso. Ele também disse que havia uma leve "sensação de papel", indicando que havia uma oxidação não esperada. Por isso, ATENÇÃO à data de validade das garrafas. Procure sempre as mais novas.


Em seguida, entramos em uma India Pale Ale, que homenageia os 25 anos da banda Velhas Virgens.  Produzida pela Cervejaria Invicta, a bebida apresentava também as notas de biscoito e malte, além de mel e caramelo. Tem um sabor equilibrado, mesmo com o final seco e amargo.


Algumas coisas das degustações de vinho me serviram nessa hora, e eu sabia que toda degustação segue um crescente, do mais fraco ao mais forte. Portanto, a última cerveja era porreta! A India Black Ale Hop to Thrill foi uma homenagem ao som pesado do ACDC. O nome do rótulo foi um trocadilho com a música do grupo, Shoot to Thrill, e a palavra lúpulo em inglês. Criada por um cervejeiro caseiro de Tackelbier, Rubens Deeke, e feita com um lúpulo chamado "Zeus", tinha  características da escola americana, bem cítrica e encorpada e com muito malte torrado e sabor de chocolate.

Essa foi a única aula que minha companheira de viagens, Lud, me acompanhou (de boba a moça só tem a cara, rs) e nós não só nos divertimos, como também ficamos mais fãs das cervejas especiais e até aparecemos no vídeo do Estadão (olha a fama aí, hahahah):


Depois de tanta cerveja, o jeito foi sair para curtir minha primeira noite na Terra da Garoa! Conto tudo depois :-)